quarta-feira, maio 23, 2007

Dias de Glória

Quando, há uma semana, recebi um convite do Instituto Franco-Português para assistir à antestreia de um filme, torci o nariz. O cinema francês não faz parte das minhas preferências: nunca gostei da língua (demasiado melosa) nem nunca tinha visto nenhum filme (nem mesmo o aclamado ‘O Fabuloso Destino de Amèlie Poulain’). Porém, em conversa com o meu mais-que-tudo, acabámos por decidir ir. O meu portuguesismo manifestou-se, afinal, se era uma antestreia à borlix por que não ir? E só vos digo isto: valeu a pena!
O filme chama-se ‘Dias de Glória’ e retrata a participação de homens das colónias francesas na II Guerra Mundial. Quatro indivíduos – Messaoud, Yassir, Saïd e
Abdelkader – decidem juntar-se ao exército francês para combaterem o nazismo. Contudo, com esta ida para o exército pretendem, de igual modo, obter algum reconhecimento socio-económico. Querem lutar pela Mãe-Pátria, mas não esquecem a pobreza a que são vetados nas colónias, ansiando por uma nova vida. Cedo se apercebem de que a França faz deles ‘carne para canhão’: são os primeiros a ir para a linha-de-fogo e a sua bravura nunca é recompensada ao invés da dos franceses. Ao longo do filme, os destinos de Messaoud, Yassir, Saïd e Abdelkader vão sendo traçados e, nem sempre, como o espectador desejaria.
Na minha opinião, o filme está muito bom e merece ser visto, na medida em que põe em causa o lema por que a França se rege: Igualdade, Liberdade e Fraternidade. A França multi-cultural, na altura, pretendia apenas livrar-se das amarras do nazismo, independentemente dos danos colaterais.
Com momentos cómicos, dramáticos, românticos e de acção, o filme apresenta um novo lado da II Guerra Mundial que desconhecia por completo. E que, como branca, me envergonhou. Por muito que os indígenas (nome por que eram conhecidos os homens das colónias) fizessem para defender a França, e torná-la digna do apoio dos Aliados, nunca era suficiente para que as altas chefias lhes reconhecessem mérito. Pensava que, na guerra, a cor, a educação e a origem não importavam... A luta trava-se por um ideal e sob uma bandeira!


“Sejamos bougnoles* ou franceses, as balas alemãs não conhecem a diferença.”, Abdelkader

* bougnoles - nome por que também eram conhecidos os nativos

2 comentários:

Que linda crónica! Fantástico!
O filme deve ser mesmo genial!

Quanto ao Fabuloso Destino de Amélie, tens de ver! É realmente fabuloso! E a banda sonora, do Yann Tiersen, é maravilhosa!

deixaste-me curiosa para ver. Está uma critica maravilhosa.

beijinhos grandes